Madrigal

Editora:

Ano de Edição: 1993

Encadernação: Capa Mole

Nº de Páginas: 191

ISBN: 9722902806

Resumo:

 

Este livro de Filomena Cabral é diferente dos outros (…) é um livro em que há uma protagonista que é escritora, várias vezes apresentada como tal, que medita e dialoga com duas personagens, uma é o profeta, outra o cavaleiro dos sonhos, mas esse profeta e esse cavaleiro (…) essas figurações várias vezes apresentam programas, raciocínios, e o livro, todo ele, é apresentado como sendo um diálogo tríplice de duas personagens e da personagem central, a qual não e inteiramente una visto que há diversos avatares, diversas configurações da personagem (…).

É Madrigal uma peregrinação histórica e geográfica. Na peregrinação histórica. percorremos Platão. Ovídio. faz-se referência à Chanson de Roland a Arnaut Daniel, de que é transcrito o verso do madrigal, “estão mortos os que não amam”, e que serve de mote a todo o livro. A personagem central é designada como sendo Angélica; angélica aqui tem vários significados, sendo sugerido o nome, por exemplo por Angelus Novus, de Paul Klee, acerca da qual Walter Benlamin escreveu uma meia página que ficou, sendo pois um nome que equivale a uma personagem (…). Segundo a interpretação de Walter Benjamin do quadro de Klee, o progresso tem uma contrapartida que é a destruição, e acontece que o anjo está voltado para o passado, vendo portanto o aspecto negativo de tudo; a visão é fundamentalmente pessimista, é-o em Walter Benjamin e também em Madrigal, há uma dialéctica entre progresso e regresso que se levanta a cada tempo, como em W. Benjamin; aliás, Benjamin é aqui muito importante, o livro é muito influenciado pelo pensamento dele, é de W. Benjamin que se tira a caracterização de Baudelaire, como a ideia de que há uma alegoria (mais profunda que a barroca) que vê a morte de tora para dentro.

Por outro lado, o livro passa-se no tempo e simultaneamente não se passa no tempo, quer dizer, tudo é concebido como sendo uma metáfora, a personagem sente-se a viver no sonho de outrem, e por outro lado a personagem habita uma metáfora, o romance é uma metáfora construída de dentro para fora (…) e no meio de tudo isto há qualquer coisa que aparece constantemente, a experiência de vida angolana, a vida de Luanda, reaparece três vezes, como paisagem com a função de uma lugar eterno (…) O livro é o próprio romance a escrever-se, a própria fantasia a produzir-se, a própria experiência literária a consuma-se (…), a romancista refere a produção artificial, no pequeno mito, o dos rosavos, os novos escravos, artificialmente produzidos (…). Uma figura que é frequentemente usada, a ironia. é mais uma vez utilizada. A autora aproxima a ironia que está a construir da ironia romântica, nomeadamente da obra romântica alemã em que o autor se descobre si próprio.

(…) A parte final, toda ela, é de reflexão acerca da História, acerca do determinismo, acerca de qual o destino, mas tudo isto do ponto de vista de uma escritora. (…) Ficamos perante uma obra de meditação (…) diante de um romance da actualidade, um romance dos tempos que estamos a viver. Este livro inaugura uma fase, não há dúvida que se encerrou o ciclo anterior.

 

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